segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Julião Sarmento - O Artista Como Ele É

 
"Mas no meio feminino há quem diga que as trata mal, por lhes «cortar» o pescoço ou os membros, nas suas esculturas e pinturas.
Julião Sarmento: Isso decorre de uma interpretação demasiado ligeira sobre o meu trabalho. Para começar, nas minhas obras as mulheres são representações, não são mulheres reais. Não lhes corto a cabeça. As cabeças não são representadas, apenas. O que me interessa é representar a essência e o sentido da mulher e não um rosto em específico. Volto a explicar: a partir do momento em que esboças os traços fisionómicos do rosto - uma sobrancelha, uma pestana, a ponta de um nariz - , fica um retrato, deixa de ser genérico. A única maneira de a representação da mulher ser genérica é não ter cabeça, não se ver os traços fisionómicos que a caracterizam e diferenciam. Representar só o cabelo e não o rosto também daria mas seria mais sinistro. Assim, não faço a representação da cabeça. Ela não é cortada. Não está lá. Há uma grande diferença entre a ausência e o corte. E aquilo não são mulheres. São representações, são desenhos. As pessoas confundem a realidade com a ficção. Aquilo não são pessoas, são desenhos, pinturas e esculturas."



"Julião Sarmento: O Artista Como Ele É" - conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro
Editora Documenta
1ª edição, Dezembro de 2016
Páginas 99 e 100

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