uma garrafinha verde.
Era uma bela garrafinha,
pensei,
para colocar uma flor.
Enquanto a lavava para tirar
o cheiro e o rótulo
lembrei-me de um homem
que pousava ali para os lados
das Avenidas Novas.
Comia às vezes só molho e pão
e tinha sempre à frente
uma flor
dentro de uma garrafa suja.
Um dia estendi-lhe
uma peça de fruta à sobremesa
e ele sorridente,
convidou-me a comer também
daquele prato
de aspecto catástrofe.
Lembro-me de ter pensado que
há coisas que só se engolem
com muita fome e uma flor à frente.
Mas ele era um sem-abrigo ainda jovem
qualquer dia já nem vai precisar da flor."
André Tecedeiro em "A axila de Egon Schiele [poesia reunida 2014-2020]
Porto Editora
1ª edição, Outubro de 2020
Páginas 44 e 45
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