sábado, 27 de agosto de 2022

Julião Sarmento - O Artista Como Ele É

 
"Diz-se também que desfrutar de muito boas condições de vida pode, de algum modo, ter reflexos negativos no trabalho plástico do artista. Concorda?
Julião Sarmento: Não. Isto é uma boutade reaccionária. Se formos pobrezinhos vamos ser melhores artistas? Não. A questão que se pode pôr é outra, de outra ordem, e não de dimensão política. Pode ser uma ideia muito romântica, mas estou convencido de que a felicidade, a profunda felicidade, é «numbing», faz adormecer o génio. Ou seja, precisamos de alguma infelicidade para sermos espicaçados, para mantermos as inquietações activas. Se estivermos num estado de graça absoluto, não temos inquietações que nos obriguem a agir. Portanto, uma certa infelicidade ou insatisfação amorosa (por exemplo) é importante. Agora, isto não é uma apologia da pobreza. Podemos ser milionários e ter muitas inquietações."



"Julião Sarmento: O Artista Como Ele É" - conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro
Editora Documenta
1ª edição, Dezembro de 2016
Páginas 80 e 81

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