« Não tenho passado nem futuro e às vezes recuso-me a ter presente.» Era tão cinzenta, tão vazia a vida das pessoas. Uma amálgama de acontecimentos sem interesse e sem sentido. O que pensou em dado momento? O que sentiu? Já não sabe. O tempo passa, uma, outra vez, não para, não pode parar, e as coisas ficam cobertas de sucessivas camadas de pó."
«Nunca se encontrou a si próprio sem se conhecer, com a sensação de ter encontrado um estranho?»
«Sou uma ilha, Paula.» Sim, uma ilha pequena, sem arquipélago, e à volta o oceano desconhecido e um nevoeiro tão denso que não deixava ver os barcos, se os havia. Mas era natural que os houvesse. Há sempre barcos em volta das ilhas."
« É um mau costume, esse de classificar as pessoas, espetá-las no sítio que nos parece adequado, como às borboletas. Boas e más, loucas e ajuizadas ... Como se isso fosse possível! Entre um princípio e um fim, quantos lugares, quantos milhares deles. Nós, por exemplo, onde estaremos situadas? Sabes? Eu não sei. Mas olha que não é em nenhuma das extremidades.»
"Eram assim os seus sonhos. Havia também o mar, um mar grande, muito quieto, mas mar a sério desta vez, a banhar praias imensas, sem ninguém. Ela nadava nesse mar, mas também era um pouco como se voasse, em gestos lentos, fáceis, como se toda aquela água muito azul fosse um elemento suave, maternal, que os ajudasse em vez de os combater."
"Obras Completas de Maria Judite de Carvalho - Vol. ll
Paisagem sem Barcos | Os Armários Vazios | O seu Amor por Etel"
Minotauro, Setembro de 2018
Páginas 34, 36, 72, 192 e 217
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