domingo, 24 de janeiro de 2016

Nevoeiro

"O nevoeiro é a cinza que do alto
cai sobre a terra a atenuar-lhe a cor.
Pó-de-arroz da cidade, que ao sol-pôr,
lembra poeira de oiro no asfalto.
 
O nevoeiro cai sem sobressalto
como lágrima tímida, incolor,
e empresta à voz da rua outro sabor,
dá-lhe cadências graves de contralto.
 
Ao pôr do sol o nevoeiro é espuma,
é volúpia, mistério, lenda, bruma
tão leve como franja de retrós ...
 
Nos candeeiros murcha a claridade ...
A alma da neblina é uma saudade
que vive, oculta, em cada um de nós."

Fernanda de Castro  em "Cidade em Flor"

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Meditação

"Às vezes, quando a noite vem caindo,
Tranquilamente, sossegadamente,
Encosto-me à janela e vou seguindo
A curva melancólica do poente.

Não quero a luz acesa. Na penumbra
Pensa-se mais e pensa-se melhor.
A luz magoa os olhos e deslumbra,
E eu quero ver em mim, ó meu amor!
 
Para fazer exame de consciência
Quero silêncio, paz, recolhimento,
Pois só assim, durante a tua ausência,
Consigo libertar o pensamento.
 
Procuro então aniquilar em mim
A nefasta influência que domina
Os meus nervos cansados; mas por fim
Reconheço que amar-te é minha sina.
 
Longe de ti atrevo-me a pensar
Nesse estranho rigor que me acorrenta,
E tenho a sensação do alto mar,
Numa noite selvagem de tormenta.
 
Tens no olhar magias de profeta
Que sabe ler no céu, no mar, nas brasas.
Adivinhas. Serei a borboleta
Que vendo a luz deixa queimar as asas.
 
No entanto - vê lá tu! - eu não lamento
Esta vontade que se impõe à minha ...
Nem me revolto ... cedo ao encantamento ...
Escrava que não soube ser rainha!"

Fernanda de Castro em "Danças de Roda"

sábado, 2 de janeiro de 2016

"Kajurao é o lugar mais belo da Índia, talvez o único lugar que possamos dizer realmente belo, no sentido «ocidental» da palavra. Um imenso relvado-jardim ao gosto inglês, verde, de um viço pungente, com buganvílias esparsas em grandes maciços redondos, diante dos quais os olhos poderiam ficar esquecidos, gozando aquele vermelho paradisíaco durante horas a fio. Filas de raparigas, com os seus sari, muito enfeitadas, tratavam da relva; e, mais adiante fileiras de crianças, sentadas na relva, enquanto, mais longe ainda, jovens que carregavam, pendurados da extremidade de uma vara, baldes cheios de água: tudo isto, numa paz de Primavera infinita. E espalhados pela relva, os pequenos templos, que são tudo o que de mais sublime se pode ver na Índia."

Pier Paolo Pasolini  em "O Cheiro da Índia"

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Balanço Literário de 2015

2015 ... 38 livros lidos num total de 8330 páginas lidas!

Curiosidade: média de 219 páginas por livro!



E os 10 livros que mais gostei de ler em 2015 foram:
 
  • "A Cidade do Sol" de Tomás Campanella
  • "A Harpa de Ervas" de Truman Capote
  • "A Lua e Cinco Tostões" de Somerset Maugham
  • "Encontros Marcados" de Gonçalo Cadilhe
  • "Entrevistas da Paris Review" - Selecção e Tradução de Carlos Vaz Marques
  • "Escritos Autobiográficos, Automáticos e de Reflexão Pessoal" de Fernando Pessoa
  • "História da Beleza" - Direcção de Umberto Eco
  • "Obra Poética" de Sophia de Mello Breyner Andresen
  • "Saúde Perfeita" de Deepak Chopra
  • "Shambhala - A misteriosa civilização tibetana" de Andrew Tomas