domingo, 23 de junho de 2019

"Todos sabemos que o mundo está a mudar, mas muitas vezes refugiamo-nos naquilo que é familiar e não temos flexibilidade mental para observar as tendências actuais e perguntar a nós próprios: «O que é que acontece se isto continuar?» Também falhamos ao não ter em conta que algumas tendências são potencialmente muito mais poderosas do que outras, desenvolvendo-se a um ritmo muito mais rápido ou fazendo com que as coisas tomem uma direcção radicalmente diferente e deixem de ser uma simples continuação daquilo que nos é familiar."

Tim O' Reilly  em "Como Será o Futuro e Porque Depende de Nós"

quarta-feira, 19 de junho de 2019

Salomé Pais Matos - Prelúdio ao Rio


Diálogos


"O desejo de me afastar para poder escrever alcançara o seu ponto culminante. Como amiúde acontece com os artistas, eu sentia-me sob as ordens de um poder superior. Não era, naquele momento, senhor de mim mesmo. A minha longa obediência a esse poder, com tão exemplar humildade e tão escasso proveito, ia finalmente produzir resultados. Eu albergava dentro de mim um grande livro, pelo menos um, e sentia a seu respeito uma temível urgência. Precisava de pureza, solidão e obscuridade."
 
Iris Murdoch  em "O Príncipe Negro"

sábado, 8 de junho de 2019

"Cada pessoa manifesta-se, verdadeiramente, no padrão do seu comportamento ao longo da vida, e não em qualquer sumária teoria que tenha a respeito de si próprio. Isto é sobremaneira verdade em relação ao artista, que sempre se revela, por muito que imagine ocultar-se, em toda a extensão da sua obra."
 
Iris Murdoch  em "O Príncipe Negro"
" ... qualquer história das cores tem de ser uma história social. De facto, para o historiador, como aliás para o sociólogo ou para o antropólogo, a cor define-se antes de mais como um facto social. É a sociedade que «faz» a cor, que lhe dá a sua definição e o seu sentido, que constrói os seus códigos e valores, que organiza as suas práticas e determina as suas implicações, não é o artista nem o académico - e ainda menos o aparelho biológico do ser humano ou o espectáculo da Natureza. Os problemas da cor são, em primeiro lugar e sempre, problemas sociais, porque o ser humano não vive sozinho, mas sim em sociedade."

Michel Pastoureau  em "Azul - História de Uma Cor"
" ... estados empáticos têm mais probabilidades de produzir actos compassivos quando conseguimos manter uma distância desprendida.
(...)
E isso certamente está de acordo com a postura budista diante da compaixão, vendo-a como um imperativo simples, desprendido e autoevidente, em vez de algo que exige uma postura colérica. Agimos de forma compassiva com um indivíduo por conta de um sentimento globalizado de desejar coisas boas para o mundo."

Robert M. Sapolsky  em "Comportamento"

quinta-feira, 6 de junho de 2019

"Tudo o que nos contam fica incorporado em nós e passa a fazer parte da nossa consciência, inclusive se não acreditamos ou nos consta que nunca aconteceu e que é apenas uma invenção, como os romances e os filmes ...
[...]
O que foi dito espreita-nos e revisita-nos às vezes como os fantasmas, e então parece-nos sempre que foi insuficiente, que a mais longa das conversas foi muito curta e a mais cabal das explicações teve lacunas; que devemos perguntar muito mais e prestar mais atenção, e fixar-nos no que não foi verbal, que engana um pouco menos do que o é."

Javier Marías  em "Os enamoramentos"
"Os poetas, conforme as circunstâncias da época e do país em que surgiram, foram chamados, nas primeiras idades do mundo, legisladores ou profetas: o poeta inclui e une, essencialmente, estes dois caracteres, pois ele não só contempla intensamente o presente como tal e descobre aquelas leis segundo as quais as coisas presentes devem ser ordenadas, mas também o futuro no presente, e os seus pensamentos são os germes da flor e do fruto do tempo a vir. Não que eu sustente que os poetas sejam profetas no vulgar sentido do termo, ou que eles possam predizer a forma, tão seguramente como prevêem o espírito dos acontecimentos - isso seria o intento da superstição que faz da poesia um atributo da profecia, em vez da profecia um atributo da poesia. O poeta participa do eterno, do infinito e do uno; não existem, pois, tempo, lugar e número que determinem as suas concepções."

Percy B. Shelley  em "Defesa da Poesia"