terça-feira, 22 de abril de 2014

"Vês como o tempo modela as figuras das casas, como arredonda as esquinas, como entrelaça as curvas do seu fluir? Não é o tempo, disse-lhe, não é o tempo que passa por nós, mas nós que passamos por dentro de tempo, e quase nem damos por isso, tal é a nossa pressa de permanecermos além do tempo."
 
António Mega Ferreira em "Lisboa Song"

segunda-feira, 21 de abril de 2014

 
" - Nos momentos em que não consegue ver o sol, como é que faz para saber as horas?
  - Nesses momentos consigo ver de outras formas. Existe a maré alta e a maré baixa, ervas que se deitam a certas horas e o canto dos pássaros que se altera: alguns pássaros começam a cantar quando os outros cessam. Também sou capaz de determinar as horas olhando para as flores que se fecham durante a tarde e para as folhas que ostentam um verde brilhante a certas alturas e um verde desmaiado noutras. Além disso, consigo senti-las."
 
Knut Hamsun  em "Pan"

Anna Keville Joyce

"Flamingo"

"Owl Cubed"

"The Wood pecker"

"A tribute to budgie"

"Birds on wire"
 

terça-feira, 15 de abril de 2014

"Pouco a pouco, ela fora insinuando na minha vida hábitos novos, gestos e murmúrios que eu esquecera, reminiscências de um tempo que só vagamente eu conseguiria ainda restituir. Foi ela que me ensinou a nadar por baixo das ondas, e eu abanava levemente a cabeça para sentir a água entre os cabelos; uma noite dançámos ao luar e ela dizia-me ao ouvido que o meu corpo tinha um movimento que eu desaprendera; disse-me o nome das flores e descreveu-me as constelações, conhecia-as todas, desenhava-as com a ponta dos dedos e eu contava-lhe o exílio de Ariane e a maldição do Centauro. De todas estas coisas eu começava a saber como se fosse a primeira vez, aprendia-as de novo, mas como novas, ideias que ficariam para sempre ligadas à sua passagem por mim.
Amávamo-nos de tarde, quando o calor de Julho se detinha sobre a cidade, e vivíamos as noites a percorrer as sombras, adivinhando esquinas para lá de portas, dramas além das janelas, amores fugazes na penumbra das escadas. Como nos amávamos, contávamos histórias um ao outro, porque o amor inventa os enredos e alimenta-se de equívocos. A nossa vida é um desperdício, disse-lhe uma vez. O nosso amor é que é, respondeu, talvez a vida não nos mereça e é isso que faz do nosso o único amor ainda possível. Eu fingia que não podia compreendê-la, mas acreditava nela, como quando se quer acreditar em alguma coisa que traz consigo a suspeita de uma mentira."
 
António Mega Ferreira & Amy Yoes em "Lisboa Song"

terça-feira, 8 de abril de 2014

Fictitious Dishes

"Alice's Adventures in Wonderland"

"The Bell Jar"

"The Great Gatsby"

"Moby Dick"

"Heidi"

"Oliver Twist"
 
Fictitious Dishes ... um albúm com fotografias de "refeições literárias"!
Adoro este conceito! Literatura, fotografia e culinária! :)
Espreitem aqui o projecto, as fotografias e os excertos dos livros que serviram de inspiração para as mesmas!
"Caminho sempre para ti
com todo o meu caminhar
pois quem sou eu e quem és Tu
só nós o compreendemos."

Rainer Maria Rilke

domingo, 6 de abril de 2014

Jiwoon Pak

"The horizon"

"Lullaby"

"Crow Island"

"Withered Season"

"Metamorphosis"

"Abandoned Cuckous"


"Lotus Dream"


 
"Peony Girl"



Jiwoon Pak

"O chá é uma obra de arte e precisa de uma mão mestra que faça sobressair as suas mais nobres qualidades.
(...)
Cada preparo das folhas tem a sua individualidade, a sua afinidade especial com a água e o calor, as suas memórias hereditárias a recordar, o seu próprio método de contar uma história."

Kakuzo Okakura  em "O Livro do Chá"

sábado, 5 de abril de 2014

"Perguntas-me, como me apaixonei, eu poderia dizer-te que por pavor ao tédio, mentiria, tu sabes que eu estaria a mentir, tudo me aconselhava a manter-me fora do circuito em que se perdem as almas, ...
(...)
E depois, sabes, havia aquela música indefinível que todas as coisas murmuram quando subitamente percebes que estás apaixonado, e não era nada físico, quero dizer não me apaixonei por uns olhos ou por uma voz, que é a forma mais simples de nos expormos à piedade dos outros, apaixonara-me por um mistério e pela diferença, e era isso que se inscrevia num corpo, num só corpo, nas suas mãos e nos seus lábios, nas suas palavras e no seu desejo, que era o meu desejo, bem sei, e por isso ele existia em mim e eu quase deixara de existir, por ele, em mim."
 
António Mega Ferreira  em "Lisboa Song"

quinta-feira, 3 de abril de 2014

" - Nefelomancia, respondeu o homem, é uma palavra grega, nefelos significa nuvem e mancia adivinhar, a nefelomancia é a arte de adivinhar o futuro observando as nuvens, ou melhor, a forma das nuvens, porque nesta arte a forma é a substância e por isso eu vim de férias para esta praia, porque um amigo meu da aeronáutica militar que trabalha em meteorologia garantiu-me que no Mediterrâneo não existe outra costa como esta onde basta um instante para as nuvens se formarem no horizonte. E assim como se formam, desaparecem, e é precisamente nesse instante que o verdadeiro nefelomante tem de exercitar a sua arte, para compreender aquilo que a forma de determinada nuvem anuncia antes que o vento a dissipe, antes que se transforme em ar transparente e passe a ser céu.
(...)
Apontou o dedo ao mar.
- Vês aquela nuvenzinha branca ali ao fundo?, segue o meu dedo, mais para a direita, até chegares ao promontório.
- Já vi, disse Isabella.
Era um pequeno novelo que rolava no ar, lá muito longe, no céu de esmalte.
- Observa-a bem, disse o homem, concentra-te, a nefelomancia requer uma intuição rápida, mas a reflexão é indispensável, não percas a nuvem de vista.
(...)
- Abriu-se agora para os lados, exclamou Isabella, parece que ganhou asas.
- Borboleta, disse o homem com um ar entendido, e a borboleta só tem um significado, podes ter a certeza.
- Qual é ele?, perguntou Isabella.
- As pessoas que têm conflitos existenciais deixarão de os ter, as pessoas que estão separadas voltarão a reunir-se e a sua vida terá a graciosidade do voo de uma borboleta, Estrabão, página vinte e seis do livro principal."
 
Antonio Tabucchi  em "O Tempo Envelhece Depressa"