domingo, 28 de agosto de 2022

Julião Sarmento - O Artista Como Ele É

 
"A partir daí começou a fazer contactos, penetrar no meio, ver coisas ... esses aspectos são fundamentais para a carreira de um artista?
Julião Sarmento: Sim, mas as viagens e o estabelecimento de contactos tem muito que ver com a minha maneira de pensar e estar na vida. Sempre olhei para o mundo, nunca olhei para a rua. Em Portugal, há muito a mania de se ser o melhor da rua. Ou, então, o melhor do bairro. Ou o melhor de Lisboa. Mas eu nunca me fechei dentro desses limites geográficos. Para mim, o limite é o mundo. Nem sequer está em causa a questão de se ser o melhor ou o pior. O que é que me interessa dialogar só com quem mora no meu prédio? A mim, interessa-se dialogar com quem vive na China, na Rússia, com toda a gente que seja possível. E isso também foi o que me fez passar a vida a viajar. Aqui sentia-me muito constrangido, fechado numa realidade local. É essa a questão. E foi isso que me levou, a partir do momento em que já não trabalhava na SEC, a ser mais pró-activo, digamos.


Gostávamos de saber como é que tem sido a sua internacionalização. O Julião é o artista português com maior projecção internacional. Como é que isso começou?
Julião Sarmento: A questão da projecção internacional também já passou à história porque hoje em dia há muitos artistas com projecção internacional. De acordo, em Portugal, eu serei aquele que a terá há mais tempo. Começou, e já o disse várias vezes, porque nunca quis ser o artista da minha rua e porque sempre me interessei em dialogar a um nível planetário. Interessava-me saber o que é que os outros artistas faziam e pensavam. Interessava-me trocar experiências e, por isso, comecei a corresponder-me com artistas de todo o lado, e foi assim, através dos vários contactos, conhecimentos e ligações, que tudo se gerou. Não tenho maneira de explicar isto de outra forma. Uma ligação, ou contacto, foi levando a outros e assim sucessivamente."



"Julião Sarmento: O Artista Como Ele É" - conversas com Sara Antónia Matos e Pedro Faro
Editora Documenta
1ª edição, Dezembro de 2016
Páginas 80, 81 e 101

Sem comentários:

Enviar um comentário