domingo, 24 de setembro de 2017

Ninho das Águias

"Já eras misteriosa desde então
e nos mapas antigos chamavam-te Lissabona.
À distância contava as tuas sete colinas
como a Roma dos Césares, e repetia-me
as histórias de navegadores e as tuas lendas de conquista.
Apesar de nos separar a imensidade
do mar Atlântico, desde a minha carteira de colégio
acariciava a curvatura do globo terráqueo,
jurando que um dia chegaria às tuas margens.
 
Tantas vezes cortejada e celeste
apareceste aos meus olhos num dia de verão
de 1984, quando te vi do quarto
do Ninho das Águias,
um hotel estreito e suicida
que se persigna no monte de S. Jorge
de cada vez que Lisboa amanhece.
 
Um mapa durante dois anos dobrado e desdobrado
ardeu de véspera e de espera
sobre milhares de degraus, ardeu sobre as praças,
sobre a constante inclinação
das suas ruas, sobre o seu soçobrar marinho,
e atiramo-lo de uma ponte
para que seja o acaso a única bússola a orientar-nos.
 
Tento olhar os dias desde então
como se estivesse a uma janela do quarto
do hotel do Ninho das Águias,
vendo pela primeira vez como amanhece
a fragrante, a profunda, a ondulada
cidade de Lisboa."

Poema de Ramon Cote Baraibar (1963)
Da Antologia "Um País Que Sonha - cem anos de poesia colombiana"

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