segunda-feira, 20 de fevereiro de 2023

A Rosa Branca

 "É isto a terra? Então
eu não pertenço aqui.

Quem és tu na janela iluminada
agora escurecida pelo brilho trémulo das folhas 
do viburno?
Será que sobrevives onde eu não passarei sequer
do meu primeiro Verão?

Os ramos delgados da árvore toda a noite
se agitam, sussurrando à janela luminosa.
Explica-me a minha vida, tu que não me dás nenhum sinal,

embora eu te invoque na noite:
não sou como tu, por voz tenho só
o meu corpo; não posso
dissolver-me no silêncio -

E na manhã fria
sobre a superfície escura da terra
vagueiam ecos da minha voz,
a alvura logo absorvida pelo escuro,

como se me desses finalmente um sinal
para me provar que tu também não podias aqui sobreviver,

ou para me mostrar que não eras a luz que eu invocava,
mas a negrura por detrás dela."



Louise Glück em "A Íris Selvagem"
Relógio D´Água Editores, Dezembro de 2020
Página 99

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