terça-feira, 11 de julho de 2023

"Que túmulo em que talhão" de João Moita (IV)

 "Vem.

Anunciam-no as regueiras
pelas estradas friáveis,
o rumor brando da chuva,
o negrume de um céu
de amoras pisadas.

O vento passa
com a circunspecção
de um homem dobrado
sobre o seu cajado,
e, como ele, levanta
por um instante
a cabeça
para encher de luz
a vista cansada.

Vem.
Há muito que é esperado.

Nos lugares onde se detém,
já tudo se consumou, 
já tudo se reduziu
à sua opacidade.

Os pássaros vêm beber
nas poças abertas
pelos seus passos.

Vem.
Já ouço ao longe
a revoada.

Quando chegar,
já nada denunciará
a traição
que o aguardava."



João Moita em "Que túmulo em que talhão"
Guerra e Paz Editores
1ª edição, Abril de 2022
Páginas 69 e 70

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