quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

 
"Pedalar durante centenas de quilómetros através de uma floresta densa de pinheiros pode tornar-se algo monótono e pode afectar-nos a cabeça. Falo por experiência própria. Eu entoava cantos às árvores, experimentando os vários tons:
 
Ó, árvores, árvores e mais árvores, tra-la-la,
E mais árvores, altas árvores, as mesmas árvores, tra-la-la.
 
Depois, para me distrair ainda mais, praticava andar de bicicleta «sem mãos», depois, «mãos, com um pé no pedal», depois, «um pé no pedal, sem mãos». Depois escolhia uma árvore (uma das árvores verdes, das árvores altas, das mesmas árvores, tra-la-la) na estrada vazia e fazia uma corrida até à árvore, com as pernas a latejar, o coração a bater forte, como se não existisse o amanhã. Depois, saboreava a repentina onda de energia que a bicicleta fornecia e praticava andar de bicicleta livremente enquanto oscilava na barra transversal num estilo acrobático perigosamente difícil. Depois, adaptei um suporte para livros no guiador e ficava tão absorvida pelos pequenos contos de Somerset Maugham que por pouco não fiquei feita em papas por debaixo de um camião com dezoito rodas cheio de madeira. De quando em quando, a minha monotonia era aliviada pelo aparecimento de um alce ou de uma lebre que saltava apressadamente.
As pessoas perguntam-me se me aborreço quando viajo de bicicleta sozinha. Bem, como podem ver, não há tempo para isso.
 
Houve uma altura em que cheguei à ponte de Öland, que, com quase sete quilómetros, era a ponte mais longa da Europa. Após o tédio das árvores, o entusiasmo daquela descoberta foi quase demasiada emoção para mim, e gostei tanto de ser atingida e fustigada pelo vento lateral tumultuoso e salgado que voltei para trás e percorri a ponte novamente. Como disse antes, uma overdose de árvores pode afectar a mente."
 
Josie Dew em "Pelo Mundo em Bicicleta"

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