sábado, 5 de abril de 2014

"Perguntas-me, como me apaixonei, eu poderia dizer-te que por pavor ao tédio, mentiria, tu sabes que eu estaria a mentir, tudo me aconselhava a manter-me fora do circuito em que se perdem as almas, ...
(...)
E depois, sabes, havia aquela música indefinível que todas as coisas murmuram quando subitamente percebes que estás apaixonado, e não era nada físico, quero dizer não me apaixonei por uns olhos ou por uma voz, que é a forma mais simples de nos expormos à piedade dos outros, apaixonara-me por um mistério e pela diferença, e era isso que se inscrevia num corpo, num só corpo, nas suas mãos e nos seus lábios, nas suas palavras e no seu desejo, que era o meu desejo, bem sei, e por isso ele existia em mim e eu quase deixara de existir, por ele, em mim."
 
António Mega Ferreira  em "Lisboa Song"

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