terça-feira, 27 de maio de 2014

"Enquanto o mercado estende a sua «ditadura» do curto prazo, as preocupações relativas ao futuro planetário e aos riscos ambientais assumem um lugar primordial no debate colectivo. Perante as ameaças da poluição atmosférica, das mudanças climáticas, da erosão da biodiversidade, da contaminação dos solos, afirmam-se as ideias de «desenvolvimento sustentável» e de ecologia industrial, com o encargo de transmitir um ambiente viável às gerações que nos sucederem. Multiplicam-se igualmente os modelos de simulação de cataclismos, as análises de risco à escala nacional e planetária, os cálculos probabilísticos destinados a conhecer, a avaliar e a controlar os perigos. Morrem as utopias colectivas, mas intensificam-se as atitudes pragmáticas de previsão e de prevenção técnico-científicas. Se o eixo do presente é dominante, ele não é absoluto, a cultura de prevenção e a «ética do futuro» fazem ressaltar os imperativos do futuro menos ou mais distante.
Sem dúvida, os interesses económicos imediatos primam sobre a atenção em relação às gerações futuras. Durante o espectáculo de protestos e de encantamentos virtuosos, a destruição do meio- ambiente continua: o máximo de apelos à responsabilidade de todos, o mínimo de acções públicas. O facto é que as preocupações relativas ao futuro planetário estão bem vivas; elas habitam e alertam permanentemente a consciência do presente, alimentando as controvérsias públicas, solicitando medidas de protecção para o património natural. O presente global da rentabilidade imediata pode dominar, mas não continuará neste estado indefinidamente. Mesmo se o ecodesenvolvimento está ainda longe de dispor dos meios técnicos e dos sistemas reguladores dos quais tem necessidade, ele começa, aqui e ali, a colocar em acção certas práticas. Amanhã, esta dinâmica deverá ampliar-se. É pouco provável que a consciência e os constrangimentos de longo prazo continuem sem fazer efeito; eles transformarão as práticas presentistas ao mesmo tempo que os modos de vida e de desenvolvimento."
 
Gilles Lipovetsky & Sébastien Charles  em "Os Tempos Hipermodernos"

Sem comentários:

Enviar um comentário