segunda-feira, 8 de maio de 2017

Um soneto de Daniel Jonas

"Dói-me o que não escrevi, e não tive em sorte,
Como um condor que, abrindo as suas braças
No mais profundo céu, chora as carcaças
Do que não teve em vida nem em morte;
Tudo o que não escrevi é passageiro,
Estação que nestas folhas não detive;
Do que escrevo sou escravo e o mantive
Pra fardo alijado ao mar negreiro
(Que os versos são só palha e porém fardo).
Sofri, mas foi por pouco que o sofri.
Melhor: murchei. Fui flor e nem flori.
Melhor errei. Honrosa a flor que é cardo.
Escrever é dor. Esquecer dor é. Que vício!
É uma hérnia na alma este ofício ..."
 

Daniel Jonas  em "Nó"

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