quinta-feira, 18 de julho de 2019

O Fado e a Alma Portuguesa

"Toda a poesia - e a canção é uma poesia ajudada - reflecte o que a alma não tem. Por isso a canção dos povos tristes é alegre e a canção dos povos alegres é triste.
 
O fado, porém, não é alegre nem triste. É um episódio de intervalo. Formou-o a alma portuguesa quando não existia e desejava tudo sem ter força para o desejar.
 
As almas fortes atribuem tudo ao Destino; só os fracos confiam na vontade própria, porque ela não existe.
 
O fado é o cansaço da alma forte, o olhar de desprezo de Portugal ao Deus em que creu e também o abandonou.
 
No fado os Deuses regressam legítimos e longínquos. É esse o segredo sentido da figura de El-Rei D.Sebastião."


Fernando Pessoa

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