quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

"Não pretendemos dizer com isto que a monogamia - ou mesmo a monogamia feliz e gratificante - é impossível, porque, de facto, ela está perfeitamente ao alcance das possibilidades humanas. Mas, no sentido em que não é natural, também não é fácil. Do mesmo modo, não estamos a afirmar que a monogamia não é desejável. De facto, existe muito pouca ou mesmo nenhuma ligação entre aquilo que é natural ou fácil e aquilo que é bom.
(...)
Mesmo que não exista um parceiro ideal para cada pessoa, um casamento afectuoso proporciona a duas pessoas a oportunidade de limarem e moldarem as suas experiências comuns. Num bom casamento monogâmico, a correspondência perfeita faz-se, não nasce feita. E, embora grande parte da nossa biologia pareça empurrar-nos na direcção contrária, tais casamentos podem de facto fazer-se. São um milagre quotidiano.
Entre os animais, a monogamia é uma questão de biologia. Tal como entre os seres humanos. Porém, no caso destes, a monogamia é algo mais do que isso. É também uma questão de psicologia, sociologia, antropologia, economia, direito, ética, teologia, literatura, história, filosofia, bem como de grande parte das restantes ciências humanas e sociais. Já para não falar de amor, confiança, esperança, desilusão, medo, raiva, frustração, decepção, prazer, desespero, alegria, irritação, expectativa, tolerância, intolerância, lealdade, traição, luxúria, tédio, excitação, ansiedade, dinheiro, pobreza, filhos, esterilidade, compromisso, ruptura, doença, saúde, vida e morte. E praticamente tudo o resto."



"O Mito da Monogamia" de David P. Barash
Sinais de Fogo Publicações
1ª edição, Abril de 2002
Páginas 337 e 338

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