quarta-feira, 26 de maio de 2021

 
"Sintra, terra de encanto e de beleza, com picos altos de montanhas coroados por castelos fantásticos, a perderem-se entre as nuvens num decorativismo cenográfico; terra de fraguedos e serranias, onde a suavidade das penumbras se concerta com a alma líquida das fontes para tocar as almas da graça mística do sonho; terra de parques e jardins onde o perfume do passado se confunde com a riqueza exótica da vegetação para dar a tudo uma aparência poética de irrealidade que faz sonhar com regiões distantes e civilizações antigas; paisagem espiritual onde se ergue o perfil lendário do velho alcaçar lusitano e mouro, dentro de cujas salas, pátios e jardins há páginas de história esfumadas pela lenda que parecem surgir para nós do esmalte gritante dos azulejos, do lavrado gracioso dos pórticos, das pinturas desbotadas dos tetos.
(...)
Os penhascos verdes sobre que ela airosamente assenta são o espelho fiel da tua paisagem cujo encanto, feito de graça e de rudeza, é extraído assim da aliança caprichosa do aveludado macio dos musgos e dos arvoredos com a agressividade hirsuta dos granitos."



"Roteiro Lírico de Sintra" de Oliva Guerra
Escola Tipográfica das Oficinas de S. José de Lisboa, 1940
Página 07

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