segunda-feira, 5 de julho de 2021

Encanto Da Floresta

 
"Parque da Pena, encanto vegetal
da terra, a erguer-se em frémitos de altura, 
na ansiedade das rudes escaladas
na direcção gloriosa do Infinito;
naves sombrias de uma catedral
onde o verde de exóticas ramadas
descreve ogivas, arcos, colunatas,
e onde o beijo da luz vai fecundar
recônditas penumbras misteriosas,
criando aquelas vidas silenciosas
que a floresta transforma num altar ...

Quem foi que em ti semeou tais maravilhas,
decantado e fantástico jardim?
Que deus ou génio te dotou assim
dessa atmosfera de distantes ilhas
com que outros climas e outros horizontes
nos fazes pressentir por um momento
na arfante e clamorosa voz do vento,
ao som cantante e lírico das fontes?

Em ti há todo o encanto das baladas,
das histórias fantásticas de fadas
onde dançam as bruxas com os gnomos
e onde o sol, como um fruto tropical,
entorna o loiro sumo dos seus gomos
sobre a alma fechada do pinhal.

Cedros, palmeiras, faias e araucárias!
Que encanto quase humano há no segredo
de todas essas almas do arvoredo
que em si guardam as múltiplas virtudes
das longínquas e ignotas latitudes
onde a luz as beijou na sua origem! ...

Flutuam na atmosfera sonhos vagos;
aromas de mistério sobem no ar,
em tudo pondo o ritmo singular
de uma quase dramática ansiedade.
E os cisnes, deslizando sobre os lagos
numa hierática serenidade,
em si concentram a quietude mesta
do sonho ascensional e em flor do parque,
da alma silenciosa da floresta.

Parque da Pena, ramo senhoril
no regaço granítico da serra,
em teu condão de lírica beleza
ficaste neste mundo de tristeza
como um sonho de amor primaveril
 - verde estrofe de um canto panteísta,
paraíso que a alma nos conquista
e que, por dom de Deus, desceu à Terra! ..."



"À Esquina Do Tempo" de Oliva Guerra
Edição da Autora, Lisboa, 1975
Páginas 219 a 222

Sem comentários:

Enviar um comentário