terça-feira, 1 de março de 2022

 
"Aproxima-te. Preciso dos teus olhos acesos para não me despenhar no vazio. Para não ter frio."


"Nunca atirei a pedra exacta para o lugar certo. E abri feridas em todas as direcções."


"Nunca cumpras todas as promessas. É um modo muito triste de morrer."


"Falar é uma morte muito violenta. Mas nos teus braços morrerei, se me escutares."


"Acordo de madrugada sem saber para onde vou. A lua entra-me nos vidros, no quarto, no sangue minguante."


"Mãe, sinto a clarividência a queimar-me, o fogo de ver como os cegos o miolo das coisas, a violência do mundo de dentro. Chama-me para fora. Só não quero morrer às escuras."


"Mãe, sinto as mãos a tremer. Ponho-as debaixo dos braços, coloco-as nos joelhos, sobre a cabeça. Não sei o que fazer. Toma-as. Esvazia-as por inteiro. Bato com elas no peito, bato com elas nas portas, bato-as uma na outra - e nunca afugento a solidão."


"Mãe: sinto o nevoeiro denso das manhãs de transumância. Abeiro-me das margens, das pontes, de todas as coisas que ligam uma nascente ao seu fim. Esmola, orvalho, pão. Tudo isso me dão. Eu só quero a luz."




"Sétimo Dia" de Daniel Faria
Assírio & Alvim
1ª Edição, Junho de 2021
Páginas 35, 56, 108, 126, 143, 144, 148 e 150

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