domingo, 8 de maio de 2022

 
"Pergunto se é preciso dizer tudo do princípio:
viver é pelo centro e quando a morte existe
nada repousa em nada. Talvez que um poema
nunca chegue ao fim, talvez ele ressoe
só antes de início. Quantas vezes peço às árvores:
dai-me o som de uma ramagem, uma luz de primavera.
Mas é-me oferecido um balbuciar impuro,
a luz de um deus maciço. Recomeçar então
a escutar folhagens, a terra a macerar
desde os anéis às ramas. Criação pelo princípio.
Mãe, embebimento, labareda mergulhada
que centra e ramifica, solve e coagula."



"Arte Nenhuma" de Carlos Poças Falcão
Língua Morta / Livraria Snob
Outubro de 2020
Página 227

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