segunda-feira, 17 de outubro de 2022

"A Montanha Viva" de Nan Shepherd (IV)

 
"Aquela nuvem, como outras dentro das quais caminhei, era molhada, mas não molhava. Não nos molhou até que, já quase no cume, abriu em chuva forte, permitindo-nos finalmente ver os covões nos flancos dos montes, envoltos em névoa. Algumas nuvens atacam o viajante nas alturas - nuvens vindas de mais abaixo, uma vez que aqui em cima são chuva, ou fiapos de neve -, outras aconchegam-no de modo suave, mas tão persistentemente que mais valia atravessar um lago. Ou então a humidade pode ser mais delicada, condensando-se em gotículas nas sobrancelhas e nos cabelos e nas roupas de lã, como acontece pela manhã com o orvalho depois de uma noite ao relento. Ou a nuvem pode não ser mais do que uma sensação na pele, pegajosa, ou meramente fria. Uma vez, estive no interior de uma nuvem que não transmitia qualquer tipo de sensação. No seu interior, nada nela era tangível ou visível, embora ela tivesse um aspeto espesso e ameaçador quando nos aproximávamos. No interior da nuvem, tudo tinha sido monotonamente seco."



Nan Shepherd  em "A Montanha Viva"
Edições 70, Abril de 2022
Páginas 66 e 67

Sem comentários:

Enviar um comentário