"É ainda Barthes quem o sugere: «O fragmento tem um ideal: uma alta condensação, não de pensamento, ou de sabedoria, ou de verdade (como na máxima), mas de música: ao "desenvolvimento" opor-se-ia o "tom", qualquer coisa de articulado e de cantado, uma dicção ...». Uma «escrita de pedras» (Roger Caillois, Pierres) com timbre próprio, sempre fragmentos de outras maiores, mas completas. O fragmento é «arestado» (tem arestas), mas não fechado; cortante, mas não dobrado sobre si próprio, «equilíbrio miraculoso fora de qualquer eixo» (Garrigues: 1995, 19). A sua leitura é uma arqueologia: leitura de vestígios, intuição de marcas deixadas no seu corpo, mas que remetem para instâncias exteriores a ele."
"O leitor de fragmentos, leitor por excelência melancólico e de olhar alegórico, é, numa bela expressão, quase intraduzível, de Pascal Quignard, frappé d'origine (tocado pelo sopro das origens?). Como aquele que os escreve, sente-se atraído pelos começos, e tende a multiplicá-los, adiando sine linea a conclusão."
João Barrento em "O Género Intranquilo - anatomia do ensaio e do fragmento"
Assírio & Alvim, Setembro de 2010
Página 77
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