"Por sua vez, a poesia (moderna) é sempre fragmento, e na sua história recente tem oscilado entre perder-se na sopa indistinta da totalidade (nos adeptos do poema longo) e concentrar-se no orgasmo do fragmento (nos paladinos do laconismo e da forma breve). O fragmento (o romântico), esse é a materialização mesma do poético: põe em acção a imaginação, eleva as coisas do mundo a uma potência superior, sonha com uma totalidade - é totalidade intensiva, ausência presente convergindo para um centro. Para os primeiros românticos alemães, a expressão do absoluto poético tem de passar por uma forma como a do fragmento «órgão do infinito» em moldes aparentemente finitos e limitados, mas na verdade abertos e sem margens.
(...)
Ou com aquele resto que é condição de possibilidade do alargamento de sentido pela imaginação, próprio dessa forma concentracionária sempre à beira da explosão que é o fragmento?"
João Barrento em "O Género Intranquilo - anatomia do ensaio e do fragmento"
Assírio & Alvim, Setembro de 2010
Página 64
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