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terça-feira, 5 de outubro de 2021

 
"Lembro que certa vez me perguntaram quando e onde escrevia. Respondi: sempre e em toda a parte."


"Que significou e significa para si a poesia?
A maior plenitude possível da vida a que posso aceder. Como experiência vital, não conheço intensidade maior. A poesia é a minha identidade."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 79 e 95

segunda-feira, 4 de outubro de 2021

 
"Mencionámos de passagem o tema da solidão. Ser poeta significa assumir uma forma de solidão?
Sem dúvida, mas assumir também uma forma de companhia. Porque não se trata da solidão como isolamento, nem como separação, nem como falta de presença. Trata-se, sim, da solidão do homem só, no sentido de um fazer e viver único que, por outro lado exige concentração, silêncio, contemplação do mais íntimo de si mesmo. Mas, por outro lado, ocorre-me que não existe forma mais plena de comunhão, de sentir a existência do outro. Porque geralmente o artista está só. Mas pensemos no pintor e em como o devem acompanhar a cor, as linhas, as formas. Como o mundo acompanha o poeta, o seu reconhecimento do homem, embora, por vezes, não o entendam ou escutem. Há outra forma de viver: é a companhia que significa a intimidade com o mundo que dá origem à linguagem da criação. Penso que no poeta mais solitário, mais separado, mais isolado, está presente toda a humanidade, toda a realidade, embora não o sinta quando em angústia, e sofra essa falta de comunicação circunstancial, aleatória, com o meio que o rodeia. Por isso é tão importante cultivar o que chamamos de solidão, mas não como singularidade irredutível, mas como o fazer do sapador que se encontra, por baixo ou nem sei por onde, com todas as coisas. A poesia, e a arte em geral, exige muita dor, muito sacrifício, uma grande quota de incompreensão, de marginalidade acidental, mas que finalmente, sem dúvida que é algo infinitamente consolador e acompanha mais que qualquer outra coisa. A arte não é uma debilidade. É uma força, embora aniquile quem a pratica."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 72 e 73
 "Como caracteriza a actividade do poeta? Um ofício? Um destino?
Sempre acreditei que a poesia não é um ofício ou profissão, mas uma forma de vida. Um destino? Sim, é um destino. Não sei se será pretensioso dizer que se assume um destino, mas suponho que existam formas conscientes e inconscientes de eleger e assumir isso a que chamamos destino. O que é o destino? Entendo que deva ser uma necessidade, a necessidade profunda de viver de determinada maneira e não de outra, de fazer isto e não aquilo, de sentir que quando não se faz o que está dentro dessa concepção da vida ou do que a própria vida deve ser, está fora do que é de cada um. Não entendo então o destino como uma espécie de predeterminação, mas melhor do que uma determinação, uma determinação que deve ser assumida, que de alguma forma admite a liberdade de decisão.
(...)
Mas penso que quando falamos de destino em relação à poesia e criação, é preciso agregar esse outro elemento fundamentalmente humano que é a liberdade. A poesia é e não é destino. Mas é destino se abarcar acaso, necessidade e também liberdade, o que significa que em poesia não há destino sem criação. Então teria de perguntar porque se escolhe ser poeta, escolha essa que se apresenta como algo sério, como modo de vida. Escolhe-se ser poeta? É difícil dizer que sim. Existe algo que vem de trás, embora não seja uma predeterminação absoluta, que de alguma forma o prepara ou decide. Que preparação seria essa? Não sei. Nunca me convenceram as explicações dos psicólogos e psicanalistas de que as primeiras experiências de vida decidem a sua direcção. Não sei como se manifesta aqui a herança, as experiências infantis, o ter estado mais ou menos sozinho, o temperamento, se será melhor ser introvertido ou expansivo. Mas suponho que sim, que um emaranhado dessas coisas ou condições deve contribuir previamente para essa espécie de eleição a que se poderá chamar de destino."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 63 e 64
 "Mas a poesia, que nada tem a ver com a ética, é uma ética profunda. Porque em último caso é um modo de ser, de conduzir-se em profundidade, uma atitude plena perante o real. E é a intenção de limpar a visão, de ver as coisas com uma visão mais aberta e mais plena."


"A poesia possui uma felicidade que lhe é própria, seja qual for o drama que descubra."


" ... acabaríamos por compreender que toda a vida vivida em profundidade pode desembocar em poesia."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 53, 56 e 58

domingo, 3 de outubro de 2021

 "O ser humano não se divide mecanicamente em exercícios, separado das suas capacidades. Esse homem, se é completo, por vezes deverá pensar como cientista ou filósofo e, noutros momentos, ser místico, poeta ou artista. A necessidade de uma eventual integração de todas estas vias reduz-se à possibilidade de uma dimensão de criação do homem mais ou menos completo."


" ... a poesia não é feita apenas de razão ou sentimento, é necessário recuperar a sua perdida unidade de pensamento e imagem."


"Para que o todo exista, deve existir a parte. Não se trata de separar cada uma dessas partes, de as dividir ou suprimir as suas relações e correspondências mas reconhecer a sua identidade e particularidade que têm em relação ao todo."



"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 35, 37 e 41
 " ... um dos meus recentes poemas finaliza com esta frase: Ser não é compreender. Já temos dito que a poesia é busca e criação da realidade. Deve ser a transformação de toda a acção e todas as coisas, através da linguagem e da vida do homem, levados ao máximo alcance expressivo, associativo, analógico e revelador. Uma transformação que rebenta com o próprio homem, que transpõe as acções e as coisas e alcança, como um ousado taumaturgo, a fonte e as correntes do que não é, do não-ser."



"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol I." de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Página 35

sábado, 2 de outubro de 2021

 
"O poema não tem leis externas, o poema - como diria Unamuno - não se prende a preceitos, nem a normas, nem a retóricas, não depende de ordens nem de decretos, mas a "proceitos". Ele mesmo cria as suas normas. Por isso - prosseguia o velho mestre espanhol - o mundo da poesia é o mundo da pura heterodoxia. Ou melhor: da pura heresia. Todo o verdadeiro poeta é um herético. E o herético é aquele que adere a "proceitos" e não a preceitos, a resultados e não a premissas, a criações, a poemas e não a decretos."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol. I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Página 10
 
" ... o poema não é constituído apenas por palavras. É feito também de silêncios, como a música. A música não se constitui apenas por sons: o som constante, permanente, não seria música. O som e o silêncio, a palavra e o silêncio. Por isso, Paul Claudel disse certa vez: Os meus poemas não são feitos dessas palavras colocadas como garras sobre um papel. O poema é feito também dos silêncios que rodeiam essas palavras. O que se diz é tão importante como o não dito."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol. I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Página 05
 
"Em primeiro lugar: é possível definir a poesia?
Definir a poesia é uma impossibilidade, uma utopia, algo que não se consegue fazer. Perguntaria: pode-se definir a vida? Pode-se definir a morte, a música, o amor?
(...)
A poesia é uma aventura em direcção ao absoluto. Quer dizer: a explicação para o que não se entende - neste caso, a poesia - só será possível através de um único caminho, a criação."




"Poesia e Criação: Diálogos com Guillermo Boido - Vol. I" de Roberto Juarroz
Edições Sr Teste, Agosto de 2020
Páginas 03 e 04