terça-feira, 16 de julho de 2013

" ... na Grécia ... cada paragem é uma pedra ao longo de um caminho assinalado pelos deuses. São estações de descanso, de oração, de meditação, de feito, de sacrifício, de transfiguração. (...) As próprias rochas, e em nenhum outro lugar da Terra foi Deus tão pródigo com elas como na Grécia,
são símbolos de vida eterna. Na Grécia as rochas são eloquentes: os homens podem morrer, mas as rochas nunca. Num lugar como Hidra, por exemplo, sabemos que quando um homem morre se torna parte da sua rocha nativa. Mas esta é uma rocha viva, uma onda de energia divina suspensa no tempo e no espaço, criando uma pausa de longa ou curta duração na infindável melodia. Hidra foi inscrita na partitura musical da criação por um hábil calígrafo. É uma daquelas pausas divinas que permitem ao músico, quando reata a melodia, avançar de novo numa direcção totalmente nova. Nesta altura, podemos muito bem deitar a bússola fora. Para avançar no sentido da criação precisamos de bússola? Depois de tocar nesta rocha perdi todo o sentido de direcção terrena. O que me aconteceu deste ponto em diante inscreve-se na natureza da progressão, não da direcção. Tinha deixado de haver uma meta para além: integrei-me no Caminho. Daí em diante, cada estação assinalava um progresso numa nova latitude e longitude espiritual."

"O Colosso de Maroussi"  de Henry Miller

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