domingo, 7 de abril de 2019

Hungaria, Sinfonia Poema #9 por Franz Lizt

"sim, eu sei que escrevo muitos poemas mas não é
por ambição, é mais ou menos uma coisa para
fazer,
enquanto vivo a minha vida
e
se tenho de escrever cem maus poemas para conseguir
um bom
não sinto que esteja a perder o meu tempo
além do mais,
gosto do som do teclado da máquina de escrever, soa
tão profissional
mesmo quando
não está a acontecer
nada.
 
escrever é tudo o que sei fazer e
prefiro a música de grandes compositores
clássicos
por isso ouço-os sempre enquanto escrevo à máquina
(e quando por fim escrevo um bom poema
estou certo de que eles têm muito que ver com
isso).
 
estou de momento a ouvir um compositor que me está
a levar completamente
para fora deste mundo e subitamente
não quero saber se vivo ou se morro ou se pago
a conta do gás a tempo,
quero apenas ouvir,
apetece-me abraçar o rádio contra o peito de tal maneira
que possa fazer parte
da música, quero dizer,
isto ocorre-me realmente e eu queria poder captar
aquilo que estou a ouvir
e escrevê-lo
neste poema
agora
mas não consigo,
apenas consigo escutar e escrever pequenas palavras
enquanto ele faz a sua grande
e imortal
afirmação.
 
agora a música acabou e observo
as minhas mãos
e a máquina de escrever está
silenciosa
e de súbito sinto-me
simultaneamente
muito melhor
e muito pior."
 
Charles Bukowski  em "Os cães ladram facas [antologia poética]"

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