domingo, 21 de junho de 2020

"Voltemos à questão das raízes enquanto parte mais importante de uma árvore. Provavelmente é aqui que reside algo a que poderíamos chamar de cérebro da árvore. Cérebro? Não estaremos já a exagerar um pouco? É possível que sim, mas sabendo que as árvores conseguem aprender e por conseguinte guardar experiências, então deve existir um lugar adequado para isso no interior do organismo. Não sabemos onde fica, mas a verdade é que as raízes são neste contexto as melhores candidatas.
(...)
Até aqui era facto indisputado que a raiz controlava todas as actividades quimicamente, o que não é nada de extraordinário, já que também no ser humano muitos processos são regulados por neurotransmissores. As raízes assimilam substâncias, transportam-nas, levam em troca produtos da fotossíntese aos seus parceiros fúngicos e conduzem inclusivamente substâncias de alerta até às árvores vizinhas. Mas dizer que se trata de um cérebro ... De acordo com o nosso entendimento, isso pressupõe processos neuronais, os quais incluem, além de neurotransmissores, também impulsos eléctricos. Isto é algo que somos capazes de medir já desde o século XIX. Há muitos anos que os cientistas mantêm um debate aceso. Será que as plantas conseguem pensar? Será que têm inteligência?
Frantisek Baluska, do Instituto de Botânica Celular e Molecular da Universidade de Bona, partilha com colegas a opinião de que nas extremidades das raízes se encontram estruturas que se assemelham ao cérebro. Juntamente com a transmissão de sinais, existem vários dispositivos e moléculas semelhantes ao que é possível encontrar nos animais. Ao avançar, tacteando o solo, a raiz consegue ir recolhendo estímulos. Os investigadores medem sinais eléctricos, processados numa zona de transição, conduzindo a mudanças de comportamento. Quando as raízes se deparam com substâncias tóxicas, pedras impenetráveis ou zonas molhadas, analisam o local e transmitem as mudanças necessárias à zona de crescimento. Esta altera por sua vez a direcção, desviando os rebentos dos locais críticos no subsolo. Se a partir disto se pode deduzir a existência de inteligência, capacidade de memória e emoções é actualmente posto em causa pela maioria dos investigadores botânicos. Estes ficam agitados, entre outras coisas, com a comparação dos resultados com o mesmo tipo de situações nos animais, o que, em última análise, ameaça dissolver as fronteiras entre plantas e animais.
E qual seria o problema? Viria algum mal ao mundo por isso?
A separação entre plantas e animais é afinal de contas arbitrária e baseia-se no tipo de alimentação. As plantas realizam a fotossíntese e os animais comem outros seres vivos. No fundo, as grandes diferenças existem apenas no período de tempo que as informações levam a ser processadas e convertidas em acções. Mas será que os seres mais lentos têm automaticamente menor valor que os mais rápidos? Por vezes suspeito que seríamos obrigados a ter maior consideração por árvores e outras vidas verdes se se estabelecesse sem contestação o quão parecidas são em muitas coisas com os animais."



"A Vida Secreta das Árvores" de Peter Wohlleben
Editora Pergaminho
1ª edição, Junho de 2016
Páginas 87 a 89

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