domingo, 16 de agosto de 2020

 

"Estou terrivelmente ansioso por regressar para junto do mar, onde a alma acicatada pode refazer-se de novo com o sossego e a vastidão infinitos."

(...)
"O mar, como sempre, tem uma grandeza e simplicidade cósmicas e obriga ao silêncio, pois o que é que o ser humano pode aqui dizer, especialmente quando o oceano está sozinho de noite com o céu estrelado? Olha-se silenciosamente para além, renunciando a todo o poder próprio, e muitas velhas palavras e imagens passam-nos pela mente. Uma voz baixinho diz alguma coisa a respeito do que é antiquíssimo e da infinitude do «mar imenso e murmurante», das «ondas do mar e do amor», de Leucoteia, a encantadora deusa que, aparecendo na espuma das vagas que rebentam, prepara para Ulisses, cansado da viagem, o fino véu de pérolas que traz a salvação. O mar é como música, tem em si e toca todos os sonhos da alma. O belo e grandioso mar reside em que somos forçados a descer aos fundos frutíferos da própria alma e a defrontarmo-nos criativamente na vivificação do «deserto triste do mar».



"Memórias, Sonhos, Reflexões" de C.G. Jung
Relógio D' Água Editores, Julho de 2019
Páginas 362, 364 e 365

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