quarta-feira, 19 de março de 2025

"O Género Intranquilo - anatomia do ensaio e do fragmento" (III)

 
"As epígrafes assinalam o lugar de um eu que, ciente da distância que separa a sua consciência moderna da romântica (de um Novalis), se esboroa e recolhe os restos do naufrágio na praia do tempo, nas águas de um poema-fragmento que o espelham, e onde se afunda. O eu que escreve este ensaio-fragmento encontra-se na mesma situação, sabendo que pensar é abrir caminho (próprio) por entre os escombros do que foi pensado. É isso que explica o seu refúgio no porto inseguro desta forma, «destes fragmentos a que dei abrigo à sombra das minhas ruínas», sob um leve «rumor que murmura». Sem tábua de salvação (sistema), apenas descendo um a um os degraus de uma interminável queda  - talvez num abismo de luz."



João Barrento em "O Género Intranquilo - anatomia do ensaio e do fragmento"
Assírio & Alvim, Setembro de 2010
Página 61

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