quarta-feira, 15 de julho de 2020

"A existir um tema central neste livro, seria o de que os benefícios da natureza funcionam ao longo de uma curva dose/resposta. Tim Beatley, director do Projecto das Cidades Biófilas da Universidade da Virgínia, tem promovido o conceito de «pirâmide da natureza». Trata-se de uma listagem recomendada para suprir as necessidades humanas relativas à natureza, o que me parece uma ideia genial.
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Inspirado pela omnipresente pirâmide alimentar, Beatley coloca na base as interacções diárias com a natureza circundante que nos ajudam a reduzir a ansiedade, encontrar um foco de atenção e aliviar a fadiga mental. Incluem-se aqui os pássaros, as árvores e as fontes dos nossos bairros, os nossos animais de estimação e plantas domésticas, o consumo diário de vegetais, o tratamento paisagístico naturalista e a arquitectura pública e privada que permite obter luz natural, ar fresco e pedaços de céu azul.
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Ao subirmos na pirâmide, encontramos as visitas semanais aos parques naturais e aos cursos de água, ou seja, aos lugares onde os sons e incómodos da cidade diminuem de intensidade e onde deveríamos, de acordo com a recomendação finlandesa, permanecer pelo menos uma hora por semana. Poder-se-ão incluir aqui, se tivermos sorte, as áreas verdes citadinas maiores e mais selvagens ou os parques regionais não muito longínquos.
Mais acima ainda na pirâmide, encontramos os lugares cujo acesso requer mais de nós: as excursões mensais a florestas ou outras áreas naturais que permitam o descanso e o escapismo, na linha do que o japonês Qing Li recomenda - um fim de semana por mês - para o nosso sistema imunitário.
No topo da pirâmide, encontramos as raras, mas essenciais, doses de natureza selvagem, doses essas que, segundo Beatley e cientistas como David Strayer, da Universidade do Utah, nos são necessárias uma ou duas vezes por ano, em intensas interacções de vários dias. Como vimos já, estas viagens podem reorganizar-nos por dentro, catalisando os nossos sonhos e esperanças, enchendo-nos de espanto e espírito de entreajuda e tranquilizando-nos quanto ao lugar que ocupamos no universo. Poderão existir alturas específicas em que a permanência na natureza selvagem nos seja mais benéfica, tal como durante a tumultuosa formação de identidade na adolescência ou a seguir a um luto ou um trauma."



"A Natureza Cura" de Florence Williams
Bertrand Editora
1ª edição, Fevereiro de 2018
Páginas 265 e 266

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