terça-feira, 30 de março de 2021

Odes Condignas

 
"Como num certo e imoto azul da tarde
O céu e o mar unidos se arredondam
Seja esse o instante em que a nossa vontade
E a dos deuses se encontram

Só luz e água. Irreais, ao longe os barcos.
Suaves de não pedirem nada as mãos,
Mergulhemos na paz de nada esperarmos,
Lúcidos e pagãos.

E nada mais que pele, obra do sol;
Um sabor de nudez a entrar na água,
E uma candura original e mole
Na areia deitada.

Fugaz é em nós o eterno que nos vive.
De futuro e passado não precisam
Os sentidos, como na duna livre
Os deuses se espreguiçam.

Em seu sossego antigo está a rocha.
Contudo move-se. Mas quem dá por isso?
Tudo passa por nós, parado embora
Num esgar ou num sorriso."




"Poesia Completa - O Sol nas Noites e o Dia no Luar" de Natália Correia
Publicações Dom Quixote
3ª edição, Maio de 2007
Páginas 548 e 549

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